Em um dos meus
primeiros passeios, após o início das minhas aulas de chinês, fui, com meu
marido, ao Panjiayuan, o famoso mercado de antiguidades de Pequim.
Depois de
comprar em diversas quiosques do mercado e negociar, bem ou mal, com o meu
pouco mandarim da época, cheguei a um quiosque onde o simpático vendedor tinha estátuas dos três reis da China. Após uma
breve conversa, meu marido e eu decidimos que iríamos comprar e partimos para a
negociação. Vale lembrar que aqui na China os produtos nos mercados não tem preço e devem
ser negociados. Não se começa uma negociação se não tiver o real interesse de
comprar. Essa é uma regra básica em respeito ao vendedor.
Comecei a
barganhar porque se deixasse nas mãos do meu marido, ele levaria pelo triplo do
preço. O problema é que começou a ficar difícil a negociação. O vendedor muitas vezes me ignorava e por mais que eu me esforçasse para falar
mandarim ele parecia não me entender. Comecei a ficar irritada com aquela
situação. “Que cara mais chato!”- pensei. “Porque todo mundo fazia um esforço
para se comunicar comigo ainda que o meu mandarim não fosse claro, mas aquele
antipático insistia em mostrar a calculadora para negociar e me ignorava cada
vez que eu propunha um valor!”
Meu marido,
que adora tirar onda comigo, falou : “ O teu chinês tá é ruim! (risos). “Ah,
paciência, eu acho que quem não fala mandarim é esse chinês, tô fazendo tudo
direitinho!” - pensei.
Depois de
muito tempo de discussão, só eu falando e o vendedor insistindo em não dar uma
palavra comigo, uma senhora, esposa do então vendedor, foi chegando na barraca
e me disse: “Pode resolver comigo, ele é surdo e mudo!”. Quase morri de
vergonha! Tadinho do moço tava tentando me mostrar a calculadora no afã de
poder ajudar!!! Nunca mais, por mais que a situação seja óbvia, eu vou julgar
os chineses, sempre tão simpáticos e solícitos. Comprei as três estátuas dos
reis, dei um abraço no vendedor, pedi desculpas e ainda ganhei desconto!